terça-feira, agosto 30, 2005

Stephen Daldry, "The Hours"

(Publicado originalmente a 24/3/2003.)

Este filme engoda-nos com uma edénica conciliação entre a diacronia corriqueira da flecha do tempo, por um lado, e a promessa de epifanias sincrónicas adequadamente inseridas numa matriz de secular procura da felicidade. Quem considera, como o autor destas linhas, que nenhum esforço artístico honesto tem o direito de se furtar a esse fulcro da natureza humana que é a sede de significados, não pode negar um gesto de aprovação perante um filme cujo tema único parece ser uma aspiração pela plenitude capaz de saltitar de geração para geração com a agilidade de uma moviola. O que falha, pois, em "The Hours"? Essencialmente, isto: da subversão prometida no início nada resta, afinal, a não ser algumas bruscas elipses e raccords mais ou menos engenhosos. Cada destino pessoal joga-se na bem comportada sequência de factos, sucessos, coisas e estações; cada segmento dramático respeita convenções e códigos com uma robustez do mais louvável que há (veja-se o suicídio do poeta, veja-se a cena na plataforma da gare entre Virginia e Leonard); nem os milagres, nem os vórtices, nem as caixas azuis lynchianas se repetem.

Que mais? Meryl Streep é prodigiosa no alento dramático e na contenção, Julianne Moore é prodigiosa no orgulho resignado e na contenção, Nicole Kidman é prodigiosa na agreste impenetrabilidade anglo-inglesa e na contenção; pela enésima vez, o cinema americano expõe aos olhos do mundo a sua falta de à vontade com o génio, rejeitado, na melhor das hipóteses, à condição de neurose peso-pluma (tivesse Foucault visto "A Beautiful Mind", e alguma coisa de interessante teria daí saído, palpita-me); foi uma boa coisa que os Óscares (©, TM) não tenham consagrado esta obra, para que ninguém se iluda com fantasias de abertura a um cinema mais adulto por parte de Hollywood, como sucedeu aqui há anos com "American Beauty" (filme bem mais insignificante e apalermado do que este, de resto).

1 Comments:

At 5:10 da tarde, Blogger fernando said...

Primeiro, cinema é diversão, não costumo ouvir estas palavras na boca das pessoas por aí.O siginificado disso é uma necessidade de falar nada com coisa nenhuma. ˜ecessidade de malhar. Vc sabe o que é filmar?? Sabe o quanto é trabalhoso trazer para as telas coisas como As Horas. Sua critica é prepotente e tendenciosa...
Fica aqui a minha caridade em prestar atenção em tamanha asneira, Segundo, terceiro, e por fim. O seu lugar de diversão, não é uma sala de cinema.

 

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