Comentários ao Palmarés de Cannes
(Publicado originalmente a 26/5/2003.)
Sem ter visto nenhum dos filmes, limitamo-nos a comentar tendências. Independentemente dos filmes propriamente ditos, satisfaz-nos que o palmarés tenha sido ousado, avesso a conformismos, idiossincrásico. Não foram defraudadas as esperanças que depositávamos em Patrice Chéreau: sob a sua batuta, o júri deu à luz um quadro de premiados que foge à morna previsibilidade que tinha vindo a prevalecer, nos últimos anos. Não podemos deixar de evocar a entrega dos prémios do Festival de 1999, em que, sob a presidência de um David Cronenberg cujo sorriso malicioso nunca o abandonou, dois filmes resolutamente contra a corrente ("Rosetta" e "L'Humanité") açambarcaram as principais distinções, para escândalo dos profissionais do cinema, cuja indignação corporativista chegou a raiar o ridículo. Quanto a Greenaway, saiu com as mãos vazias. Outra coisa não seria de esperar. Seria necessária uma qualquer conjunção astral inverosímil (ou então, que o júri fosse composto por clones do João Lopes) para que se decidissem a prestar alguma atenção àquilo que diz e filma o autor the "The Tulse Luper Suitcases". Aquilo que posso garantir é que um tal esquecimento não o fará perder nem sono, nem quilogramas, nem seguidores.
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