Josée Dayan, "Cet Amour-Là"
(Publicado originalmente a 24/3/2003.)
O menos relevante deste filme é precisamente aquilo a que ele parece resumir-se: a paixão entre o jovem Yann Andréa e a envelhecida Marguerite Duras. O idílio é sublimado na sucessão átona dos episódios que a nenhuma história a dois podem faltar (embaraço inicial, ruptura, reconciliação, querelas de território, declínio), na permanência das imagens do verão húmido da Bretanha fazendo lembrar quadros marítimos de Nicolas de Staël, em tudo aquilo (e é muito, e é perecível) cujo esplendor mate oferece carácter a este filme. Este amor, imprevisto mas assimilado, como que recua para ceder lugar a algo que dele nasce, mas que no mesmo instante o ultrapassa e percorre a matéria do filme como um frémito: falo da contaminação de um discurso por outro; dessa presença esguia e masculina que contraria a resignação de uma escritora à solidão e ao seu caudal de palavras, e da necessidade de enfrentar palavras de sedução que ela talvez preferisse confinadas às bocas de Anne-Marie Stretter e do vice-cônsul; falo de membros que acrescentam à mortalidade o facto de caminharem para a morte; falo de lábios e do gosto do vinho.Aquele amor conteve o seu quinhão de felicidade, partilhado por aqueles que o viveram. Talvez a lição deste filme seja a constatação de que, para além da transiência desse júbilo, nada mais existe nem existiu. Nem Marguerite foi egéria, nem Yann foi Galateia; a paixão não engendrou um fenómeno de continuidade; ao génio sucederam as mediocridades da morte e da vida. Aquilo que de amargo tem esta verdade é também aquilo que de profundo e de útil este filme nos deixa.
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