Os Meus 5 Filmes Preferidos de Wim Wenders
(Publicado originalmente a 1/7/2003.)
A propósito do que aqui foi escrito há dias sobre "O Estado das Coisas", aqui segue, para vosso gáudio e recreação, a lista dos meus 5 filmes preferidos de Wim Wenders.
"Movimento em Falso"(1974): Espécie de "Gata Borralheira" dos seus filmes do "período da errância", esta é uma obra que parece comprazer-se em acumular as fragilidades, as vulnerabilidades desfraldadas como bandeiras de papel a meia haste. Não só não existe "história", como a possibilidade de uma qualquer narrativa capaz de concentrar elementos díspares num todo com sentido se esgota ao ritmo de cada respiração e passo em frente. E porém, o final sugere (com a devida contenção elíptica) a inevitabilidade de uma situação em que o gesto possui significado, e que do seu malogro ou do seu sucesso dependem a realização do ser e do grupo (a palavra "felicidade" exigiria uma atmosfera menos rarefeita para ser pronunciada). As recordações que guardo deste filme são, apropriadamente, ténues e escassas. Este foi o primeiro filme de Nastassja Kinski.
"Ao Correr do Tempo"(1975): A força desta obra resulta da maneira como combina o seu estatuto de súmula das ideias cinematográficas de Wenders com um despojamento e liberdade que diluem a gravidade dos filmes anteriores e que, conjugados com a invulgarmente longa duração e com alguns detalhes engenhosos (a começar pelo genérico), fazem deste um trabalho de uma ousadia formal empolgante. Rüdiger Vogler (um dos mais subvalorizados actores do cinema europeu) e Hanns Zischler são notáveis. Um capítulo fecha-se com abundância melancólica de imagens e de diacronia, sem que inesperados momentos de euforia deixem de ocorrer. O filme seguinte seria "O Amigo Americano". Go west, my friend...
"O Estado das coisas"(1982): Sobre este já disse que chegue. Insisto apenas no seu papel charneira, baliza de um período em que, após as homenagens explícitas ("Lightning Over Water", "Hammett"), Wenders integra numa ficção a reflexão sobre as imagens, os seus meios de produção, emprego e fruição e a sua relação com a evolução das sociedades.
"As Asas do Desejo"(1987): Verboso, impossivelmente belo, este filme consagra as núpcias da palavra, da imagem, da história e do sonho num todo que se quer encruzilhada e ponte entre o passado e algo que Wenders pareceu querer perseguir a partir de então, mas sem que os seus contornos e matizes alguma vez se tenham tornado definidos. O problema de como filmar o inefável num contexto eminentemente terreno (Berlim na sua evidência material, deselegante, cindida, suja) é resolvido com uma melancolia barroca absolutamente nova na filmografia deste realizador, vagamente mórbida na maneira como explora, ao mesmo tempo que a edifica, uma fronteira entre história e irrealidade. A colaboração com Peter Handke é um sucesso comparável em importância às duplas Resnais/Robbe-Grillet, Resnais/Duras e Oliveira/Agustina.
"The End of Violence"(1997): Na minha opinião pessoal, a única ocasião pós-"Asas do Desejo" em que Wenders soube dar corpo a um objecto cinematográfico consistente e digno do seu talento. Sem ser um filme de tese, todo ele se articula em torno da resposta a uma questão («O que é a violência?»), e a esse ímpeto de abstracção corresponde uma obra admiravelmente coerente em termos de ideias e soluções narrativas. Um comentário aos tempos e costumes que não esconde (e é isso que faz a sua força) essa sede de imagens e situações, e essa proximidade relativamente às pessoas que desde cedo sustentaram a vontade de fazer cinema deste realizador.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home